Um tio com muitos sobrinhos e sobrinhas!

18:40

Com uma recepção calorosa, Marco Antonio Abreu, mais conhecido como Titio do Rock, nos recebeu num dos estúdios da rádio Kiss FM em plena gravação ao vivo do seu programa Alternativa Kiss, no ar de segunda à sexta (18h). Divertido e polêmico, Titio falou sobre as emissoras de rádio: “As emissoras jovens são muito imbecilizantes”; sobre a (suposta) decadência do rock nacional: “O rock'n'roll parece que perdeu,  porque vai falar o que? De amor igual os sertanejos falam, ou vamos vender besteiras com as eguinhas pocotó, o rebolation ? Que duram igual Yakult fora da geladeira, dá 2 dias e tem que jogar fora porque oxida?” e sobre a competitividade da indústria fonográfica: “Ou você ouve essas bandas que choram, ou as meninas gostosas que gemem ou você pega o seu cd e põe sua seqüência sem encher o saco de ninguém sem intervalos, sem falação.”. De peito aberto e de bom coração, Titio nos concedeu essa entrevista com muito bom humor, reflexão e boas risadas. Confiram na íntegra:


Entrevista feita por Helena Lucas (@meninavelha) e Ingrid Natalie (@ingridnatalie)


Editada por Helena Lucas e Ingrid Natalie


 — Sobre como conheceu o rock


"Minha banda é e continua sendo o Led Zeppelin. Mais ou menos com 6 anos de idade, época que eu escutava Bozo e Balão Mágico, meu irmão, que era mais velho, 8 ou anos a mais) tinha o Led IV. Como tínhamos uma vitrola só, minha mãe estipulava os horários e, numa dessas, eu acabei descobrindo que Led Zeppelin era mais legal que o Bozo. Na verdade o que marcou minha infância foi o Led e o Ozzy, pois meu irmão tinha na porta do nosso quarto um pôster dele com um morcego na porta. Lembro de ficar perguntando para meu irmão: "quem é ele" e ele respondia: "esse cara que está cantando é o que está no pôster". Quando vi já estava possuído por este espírito...".


 — Sobre sua trajetória no rádio


"Há mais ou menos há 15 ou 16 anos comecei a apresentar o jornal Atlântida de Santos (AM 590), minha cidade natal, porque sou jornalista também. Trabalhei em várias emissoras do litoral paulista até subir a serra e resolver "tentar a sorte na cidade grande". Fiquei 3 anos na Eldorado, que por conta de ter outra plástica, eu deveria adotar um outro tom e uma outra postura pela rádio ser mais "classuda". Fuçando em estações, me deparei com uma que estava tocando "Interstellar Overdrive", Pink Floyd. Lembro-me que até pensei: "o que é isso? Uma rádio pirata?”E em sequência Hendrix... porque, até então, só se conhecia a 89 como rádio rock, mas ela é tão roqueira como eu sou designer de interiores (risos). Aí virei ouvinte da Kiss e pensei: "quero trabalhar lá".


 — Começo na Kiss


"Conversei com o Evaldo, deixei o material, falei da Eldorado... depois de 1, 2 meses eles (rádio Kiss) me ligaram, era um salário menor, mas disse que valia a pena pelo meu tesão, pois ia fazer com uma verdade tamanha. Eu já trabalhei em estações que tocavam com uma programação bem popular e eu não gostava daquilo, mas a gente é profissional, somos pagos para fazer o que o cliente manda. Meu sonho de trabalhar "naquela rádio" deu certo: 8 anos se passaram. Passei pela Tv Cultura e na Rede Bandeirantes, onde até hoje eu faço narrações como Vídeo New, Os Vídeos incríveis, mas gosto muito mais da rádio, é o meu berço".


 — Surgimento do apelido Titio do Rock


“Quando eu entrei na Kiss, tinha vários locutores (muitos deles não estão mais) que tinham apelidos "estrambólicos". Tinha o Morcegão, o Barreto, o "Holandês Voador"...na rádio Eldorado, eu assinava como Marco Antonio e, quando eu entrei, não podia ser diferente. Aí, um dia, um menino mandou uma mensagem: "aí, tio, toca um Black Sabbath, tenho 12 anos e curto a Kiss". Até no ar eu disse: ‘Com 12 anos e já escuta a Kiss? Mas tio eu não sou não, sou jovem’, brinquei. E foi assim que, em 2003, praticamente do nada, virei o Tiozão do rock".


 — Sobre a suposta decadência do rock (comparando bandas como Titãs, Barão Vermelho, entre outras que surgiram no cenário rock brasileiro nos anos 80 com as atuais bandas como Cine e Restart)


"Eu acho que, naquela época, tinha contra o que se lutar. O rock sempre foi relacionado à transgressão, a um comportamento de rebeldia, de não aceitação. Naquela época eu me lembro que as músicas eram censuradas. Lembro que em "Faroeste Cabloco" censuravam a parte que o Renato Russo falava "olha pra cá filha da puta, sem vergonha". Hoje ninguém tem mais com o que se lutar porque vivemos numa democracia, temos um governo democrático há algum tempo... então, acho que se perdeu, vamos lutar contra o que? Aí virou um protesto social como você não tem como lutar contra um sistema porque agora é a democracia, o que além da democracia? O protesto ficou relacionado ao rap, os Racionais, essa galeria abraçou a causa social".


 — Sobre  a relação música x internet


"A internet é um advento terrível e maravilhoso ao mesmo tempo. O mundo está em banda larga, mas eu estou discado ainda (risos). Acredito que pela mudança tão brusca e repentina (tecnologia), tudo virou muito "fast food". Tem que lançar música no top 10 na rádio nessa semana e na semana que vem a Pitty já mudou de música e aí o Charlie Brown Jr já lançou outra e "é a melhor música de todos os tempos da última semana". Hoje em dia não tem mais como você ter um álbum conceitual. Eu comecei a ouvir rock com Led IV, o 4º álbum do Led Zeppelin.Quem vai lembrar do 3º álbum da Pitty daqui a 20 anos? "Eu adoro o 2º dsco do NX Zero", não. Você vai lembrar de 2 ou 3 hits que a rádio massacrou em você, então não tem mais porque você comprar um álbum. Pra que você vai empilhar sua estante? Pra faxineira tirar o pó em cima das caixinhas do CD se você tem no seu I-Tunes 20 mil músicas baixadas...".


 — Sobre censura


"Hoje eu acho que a censura é mais cruel do que nos anos de chumbo. Ela só não é mais cruel porque se você pensava contra, você morria. Agora só não te matam, mas te castram (...). Que liberdade é essa? Me dá outra nomenclatura porque eu acho que não entendi na escola, que liberdade é essa? Se você falar que o Restart é uma banda ruim num comentário, eles podem te processar por danos morais. E eu não tenho o direito de não gostar deles. Hoje em dia está todo mundo em tom pastel, bem chato. Se a geração era coca-cola (como Renato Russo cantou), hoje é geração Dolly (risos). Antes era coca-cola, pelo menos tinha gás, sabor. Hoje é geração Dollynho”.


 — Sobre o segredo da longevidade de bandas clássicas como Led, Beatles, AC/DC


"Um fator muito importante que eles têm como aliados é: eles vieram numa época onde nós tínhamos só a rádio para escutar e os canais abertos. Você não tinha a avalanche de informações com 100 canais de televisão na sua casa do mundo inteiro, a internet que te leva à oportunidade de te dar um download. Saiu a música hoje, você dá o download hoje. Você não tem que esperar sair nos EUA, chegar o vinil, ir na galeria do rock e comprar o vinil (...). As pessoas antes mergulhavam, era mais profunda nessa história. Hoje tudo é muito superficial”.


 — Sobre curta-metragem, seu passatempo


"Sempre gostei de contar histórias. Fui fazer teatro porque eu adoro representar personagens e dirigir. Começou numa viagem minha, primeira vez que fui à Argentina conhecer o rock argentino. Fui numa rádio e estava com a minha câmera, que eu gravo coisas para o meu deleite. E resolvi fazer um, sem nenhuma pretensão, falando com o pessoal, sem nenhuma produção, assim como são os vídeos de hoje do youtube, que você grava dentro do banheiro e vira ht. Desde então eu comecei a levar minha câmera nas viagens que eu fazia. Por esse hobby, adoraria fazer cinema, só não tenho tempo”.


— Sobre dublagens, algum personagem tem um valor sentimental pro Titio (aviso: ele não é emo)


"O Patrick é um filho. Mesmo que amanhã surja um sucesso maior, ele foi o primeiro. Quando eu comecei, fazia pequenos papéis até eu fazer o teste quando lançaram o desenho "Bob Esponja"De 15 atores que fizeram o teste para dublá-lo, eu passei. Comemorei, mas depois pensei "é um desenho muito louco, acho que vai durar pouco". Depois da primeira temporada (o desenho passou na Xuxa - Globo), o desenho virou uma febre e estamos na 9ª temporada. Eu faço outros personagens que eu gosto, o Garfield é um presente” (O Garfield que Titio Marco Antonio dubla é o das animações da Fox, não do filme).


- Aonde encontrá-lo?


 Programa Alternativa Kiss (102,1FM)


Segunda à Sexta feira, 18hrs ás 20hrs


Twitter: http://twitter.com/marcokissfm


Facebook: Titio Marco Antonio

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5 comentários

  1. essa é uma entrevista que vale a pena ler e reler muitas vezes!!! Eu já gostava do Patrick (mais do que o Bob Esponja hahahhaha...) agora virei fã mesmo!!!

    VIVA O TIOZÃO DO ROCK!!!!!

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  2. achei um maximo, fazerem essa entrevista com o titio marco pra vcs ..conheço a carreira desse cara desde o inicio sou amiga, fa e odeio ele tambm ..brincadeira..devia ter mais entrevistas com pessoas, q de alguma forma tem opniao bem realista com o cotidiano e nao mentem e sim fazem com nos.imbecis de televisao aberta e opniao impostas pelo horario nobre pensem e tenhamos coragem de falar tambm...porq concordamos com oq é dito.
    é isso amei a entrevista e confirmo algumas partes da historia do marco.. hebitha peron

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  3. Nossa adorei a entrevista!!!
    como já bem disse a Nanda: "VIVA O TIOZÃO DO ROCK!!!!!"

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  4. [...] 80 e 90. Os DJ’s residentes serão Marcio Vez, Renato Synth e o nosso querido entrevistado titio Marco Antonio, além dos DJ’s convidados Ale Garanci, Rodrigo Cyber (Projeto Ferro Velho), Zauber (Via [...]

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  5. grande cara com grandes argumentos, já é da história do rock paulistano... ótima entrevista

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