Os Gringos trazem rock clássico com toque brasileiro

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O que dá a soma de 4 americanos mais um brasileiro? A banda os gringos, que surge com composições própria e muita energia.


Por: Ingrid Natalie (twitter: @ingridnatalie)

Vários artistas escolhem por morar nos Estados Unidos para alcançar o tão esperado "sonho americano". A decisão parte da finalidade de conseguir ampliar as oportunidades de poder viver do seu talento. No entanto, a banda Os Gringos fez o caminho inverso, e provou que com determinação associada ao talento você chega aonde quiser. O quinteto é formado por quatro músicos norte-americanos: Daniel Friend (guitarra), Jimmy Huntington (guitarra), João Castilhos (vocal) e Justin Hansen (baixo). O único puramente brasileiro é Guilherme "Bill" Paiva, responsável pelas baquetas. Atualmente todos eles vivem na cidade de Itajubá, Minas Gerais.

O ponto de partida na carreira aconteceu em 2012 na escola de idiomas, Speaking. Nela, deu-se o primeiro contato entre Daniel, João e Jimmy que trabalhavam como professores de inglês. Daniel decidiu sair da instituição para perseguir um emprego na área de eletrônica industrial e em seguida Justin integrou o time. Música sempre foi uma paixão deles e de início não pensaram em formar uma banda oficialmente. Primeiramente, eles optaram por executar um som mais acústico, dando ênfase para violão e voz. Contudo, a chegada de Guilherme transformou a sonoridade da banda. Guitarras e bateria agora ditam a vibração dos shows. Assim nasceu oficialmente Os Gringos, com uma sonoridade envolvente que transita entre o rock'n'roll clássico e um toque tipicamente tupiniquim. Conheça mais o trabalho da banda lendo a entrevista abaixo:

FRS: Primeiramente, uma curiosidade é que todos são professores de inglês. Como veio a ideia de formar a banda e ter o rock'n'roll como profissão?

OS GRINGOS: Devemos dizer, primeiramente, que nem todos nós somos professores de inglês. O Guilherme, nosso baterista, também é professor, mas de história. O Daniel conheceu o João e o Jimmy dando aula de inglês na mesma escola, mas ele saiu para uma carreira na área industrial eletrônica, e o Justin veio para a escola de inglês logo depois. Porém, a escola Speaking foi o ponto de nosso encontro inicial em 2012. 

Nosso trajeto tomou um rumo mais profissional quando percebemos que tínhamos músicas suficientes para fazer um álbum. Foi uma evolução natural em etapas: Ideias iniciais nos levaram até o palco pelas primeiras vezes com um som acústico com dois violões e um vocal. Depois conhecemos o Guilherme e nosso som se transformou elétrico. Por tudo isso, prezamos músicas autorais em nossos shows ao vivo, e quando o Justin chegou em 2014, já estávamos com um número suficiente de músicas para gravar um álbum. 

Para conseguir espaço e tempo no palco, aprendemos uma quantidade legal de músicas cover que nos comovem. Porém, nosso foco é sempre compartilhar nosso próprio som. 

FRS: A maioria dos membros da banda tem o inglês como idioma nativo. Como foi para vocês a chegada até Itajubá/MG e aprender o português?  

OS GRINGOS: Vale a pena dizer que todo o mundo (que não é lusófono) já conhecia bastante espanhol antes de vir ao Brasil. O Justin estudou espanhol na faculdade e morou no Chile; o Daniel tem uma história parecida; o João estudou o espanhol por dez anos, e o Jimmy quatro. 

Nossa convivência com a língua nos leva à aprendizagem. Usamos a língua no dia-dia, para pedir pão na padaria, bater um papo com amigos, e conversar entre a banda toda. Sendo professores de inglês, temos que entender as dúvidas dos alunos que não falam tanto inglês.  Acabamos “entrando” nas cabeças de nossos alunos, onde podemos entender o sintaxe português e a maneira em qual eles querem se expressar, que ajuda muito para nosso entendimento do linguajar brasileiro. 

FRS: A sonoridade da banda é baseada no blues e jazz, muito forte na década de 50 e 60. Como vocês enxergam a influência desses gêneros nas bandas atuais?

OS GRINGOS: Se ligar o rádio agora (ou pesquisar na Internet), todos nós iremos ouvir influências de blues e jazz. Há alguns exemplos muito bons de bandas que continuam exibindo o som de rock clássico nos dias atuais: Vintage Trouble, que tem um som de soul e blues muito forte e vibrante; Gary Clark Jr., um grande guitarrista com as raízes totalmente no blues e Rival Sons, que possuem uma forte dosagem de rock clássico com distorção, som puro, e mais importante, o paixão.  

Muitas músicas que tocam hoje no rádio são altamente influenciados por movimentos harmônicas de blues e jazz; com um ouvido aguçado é fácil ouvir sua ressonância em muitos estilos. 

FRS: Vocês claramente se inspiram principalmente no rock clássico, mas vocês também adicionaram elementos tipicamente brasileiros. Como foi a adaptação da banda com a música brasileira? 

OS GRINGOS: A música brasileira é super rica e temos muito contato com os ritmos e melodias no dia-a-dia. Samba. Funk. Música caipira (moramos em Minas, ao final das contas!). Instrumentos indígenos. Hip-hop brasileiro. Rock nacional. MPB. A lista continua. 

Não podemos declarar nossa afinidade com todos os estilos. Mas, alguns artistas do Brasil que gostamos são: Os Novos Baianos, Chico Buarque, Caetano Veloso, Elomar Figueira Mello, Os Mutantes, Criolo. 

O primeiro álbum tem três músicas com instrumentos oriundos do Brasil, tocados por brasileiros natos: "Brazilian English" (Cuíca – Rafael Rezek), "I’ve Learned" (Berimbau – Willian Cardoso de Jesus) e "Headin’ Home" (Viola Caipira – Mário Marra). Tentamos escolher os instrumentos que iriam acrescentar para a melodia batida e presença do som como um todo. "Brazilian English" já tem um som mais sambístico e a cuíca apareceu como uma opção óbvia. "I’ve Learned" tem um jinga que nos lembrou de capoeira. "Headin’ Home" talvez seja a música que menos apareça a influência brasileira, mas a introdução feita por Mário foi numa viola caipira de dez cordas. 

Para o segundo álbum, temos algumas composições já com influência da música brasileira, mas vamos deixar isso para uma conversa futura... :P 

Confira todo o balanço brasileiro no som "Brazilian English":



FRS: Pode nos contar sobre a produção do álbum de estreia? Quanto tempo levou da composição até a gravação?

OS GRINGOS: As composições iniciais vieram rapidamente. O João e o Daniel escreviam muitas músicas e conceitos em conjunto, como "Long Distance", "I’ve Learned" e "Hound Dogs", e o Jimmy dava os toques necessários para transformá-las em obras redondinhas. O Jimmy também contribuía com muitos sons próprios, especialmente nas melodias da guitarra. Alguns exemplos são "Polyglot", "Modern History", "Brazilian English" e "Bootleggin’". O Jimmy é nosso engenheiro de som. Ele tem muito tempo de estúdio, inclusive quatro anos em Los Angeles, e trouxe esta experiência para polir nosso som. Devemos muito, muito mesmo, ao trabalho dele.

Este primeiro álbum foi feito em casa. É caseiro. Na cozinha, literalmente, onde a banda ensaia e a única sala que cabe a bateria. Começamos a gravar em julho, 2014, e terminamos em março de 2015 com as gravações. Este foi um processo de aprendizagem sobre a técnica de “microfonar” os instrumentos. A bateria deu mais trabalho, mas conseguimos gravar tudo na época de Carnaval de 2015, usando um interface com múltiplas entradas. Depois fizemos as mixagens, onde cada trilha de cada instrumento é tratada, efeitos colocados. Nesta fase, contemplamos muito como nosso som é transmitido ao vivo, para reproduzir as sensações das pessoas na plateia. Depois passamos para a masterização, onde todas as trilhas são “mixadas” em conjunto. 

FRS: "Os Gringos" é cem porcento independente. O que significa para vocês ter essa liberdade artística? 

OS GRINGOS: É importante salientar que nós não somos uma ilha criativa isolada. Podemos ser, sim, independentes em termos contratuais, mas tivemos muita ajuda ao longo deste processo. Desde os artistas brasileiros que fizeram parte da gravação (cinco em total), até o amigo do Daniel da faculdade, Phanos Demetriou, no Chipre, que construiu nosso site; até nossos amigos noruegueses, Svein Wisnaes e Jonny Pedersen, que fizeram o vídeo para nossa música "Bootleggin’"; até o desenhista João Januzelli da Agência Planet Pepper que fez a arte e identidade visual do álbum;  tivemos apoio de muitos de nossos amigos pelo mundo inteiro para finalizar este trabalho inicial. 

Em termos de liberdade artística, nós gravamos tudo na casa do Jimmy, João e Justin com arranjos simples e eficazes; apesar de ser um trabalho muito árduo de alto nível de complexidade, aprendemos muito sobre trabalho de estúdio, qualidade de gravação de som, e a captura da essência do som e a banda. Nós somos nossos ouvintes mais chatos e mais exigentes; se não passar por nosso crivo, não vai chegar em nossos fãs. Temos a liberdade de criar nosso próprio som, mas temos a obrigação de fazê-lo da melhor maneira possível.

Hoje em dia é difícil achar muita coisa neste mundo que não tenha patrocinador, que seja independente. Nós acreditamos cem-porcento em nosso trabalho e tínhamos uma obra pronta a ser gravada, o paixão e dedicação a fazer acontecer. Por isso que não podíamos esperar uma gravadora bater em nossa porta. Isso proporciona liberdade total para nosso conteúdo que esperamos que seja repassados por nosso ouvintes e fãs num estilo orgânico. 

FRS: Quais os planos futuros da banda? Podemos aguardar por shows pelo país?

OS GRINGOS: Olha, nós estamos correndo atrás de muitas oportunidades diariamente para levar nosso som mais longe. Enquanto isso, estamos sempre procurando novos palcos e eventos para conquistar novos fãs. Já tivemos uma recepção excelente aqui no sul de Minas, mas estamos almejando alguns bares e eventos no Vale do Paraíba e São Paulo. Agora tendo o álbum pronto, teremos mais oportunidades de expor nosso trabalho nos lugares certos. Cada momento no palco parece que providencia uma nova oportunidade, um novo contato e mais alguém que acredita em nosso trabalho. Sendo assim, gostamos de pensar que a banda, até agora, é independente e estamos crescendo de uma maneira orgânica (“Grassroots” em inglês). Sabemos que pode vir o momento de conseguir uma gravadora para apoiar a banda. Na hora que isso for acontecer, queremos ter um portfólio de trabalho a demostrar como podemos dar certo em níveis até maiores. 

Em termos musicais, continuaremos compondo, que é um processo natural e uma consequência de nossa convivência. Já temos 12 músicas para um segundo álbum, que será mais filosófico, mais denso e uma viagem sonora mais bem elaborado. Iremos mudar o estilo de gravação também para sessões ao vivo.

Ouça o som "Bootleggin", totalmente influenciado no rock clássico


Conheça mais sobre Os Gringos através do site oficial: http://www.osgringos.com/
Ouça o álbum de estreia: https://soundcloud.com/thegringos/sets/os-gringos-debut-album

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